Aumento na produção de grãos eleva déficit de armazenagem em Mato Grosso do Sul

Estado possui capacidade instalada para 16,4 milhões de toneladas, mas demanda chega a 27,5 milhões

Por Redação
16/10/2025 10h36 - Atualizado há 21 horas
Aumento na produção de grãos eleva déficit de armazenagem em Mato Grosso do Sul
(Créditos: Divulgação)
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Mato Grosso do Sul enfrenta um déficit de armazenagem de 11 milhões de toneladas, mesmo com a produção de soja e milho superando 22 milhões de toneladas nos últimos cinco anos. A capacidade instalada do estado é de 16,4 milhões de toneladas, inferior à necessidade de 27,5 milhões, o que gera pressões para o escoamento da produção logo após a colheita. O governo estadual busca incentivar investimentos em armazenagem através de linhas de crédito, como o FCO, e projeta um crescimento da produção que pode agravar a situação se não houver ampliação da infraestrutura. Sem melhorias na capacidade de armazenagem, os riscos de perdas pós-colheita e altos custos logísticos continuam a ser desafios significativos para os produtores locais.

Com a produção de soja e milho ultrapassando, em média, 22 milhões de toneladas nos últimos cinco anos, Mato Grosso do Sul enfrenta um déficit de armazenagem superior a 11 milhões de toneladas. O dado faz parte de um estudo da Aprosoja, elaborado com base em informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (SIGA/MS).

Segundo o levantamento, o Estado possui capacidade instalada de 16,4 milhões de toneladas, diante de uma necessidade estimada em 27,5 milhões de toneladas, conforme parâmetros da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). A diferença representa uma defasagem de 67,8%, o que obriga muitos produtores a venderem a safra logo após a colheita, sem aproveitar momentos de melhor valorização no mercado.

Embora a capacidade de armazenamento tenha evoluído ao longo dos anos, o ritmo de expansão não acompanha o crescimento da produção agrícola. Entre 2014 e 2025, o volume de armazenagem passou de 9,01 milhões para 16,39 milhões de toneladas, um aumento de 82%. No mesmo período, a produção saltou de 17,23 milhões para 29,11 milhões de toneladas, alta de 69%.

Com isso, o déficit de armazenagem cresceu 54%, passando de 8,25 milhões para 12,72 milhões de toneladas. O ano de 2023 foi o mais crítico da série, com déficit recorde de 21,23 milhões de toneladas, reflexo de uma safra excepcional.

Para o secretário de Estado de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, os números mostram uma oportunidade de investimento no setor. “O Governo de Mato Grosso do Sul tem direcionado esforços para estimular a armazenagem em propriedades rurais, especialmente por meio de linhas de crédito como as do FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste). O FCO se mostra vantajoso por oferecer prazos mais longos e taxas de juros competitivas, aspectos cruciais para o financiamento de projetos de armazenagem”, explica Verruck.

Ele defende também a retomada de mecanismos de crédito mais amplos. “Além do FCO, seria benéfico replicar, em maior escala, modelos de financiamento que existiram no passado, como as linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) voltadas especificamente à armazenagem. Atualmente, a construção de armazéns com recursos baseados na taxa Selic inviabiliza economicamente o empreendimento”, comentou.

Dos 78 municípios analisados no estudo, 73 apresentam déficit de armazenagem. Maracaju, maior produtor de grãos do Estado, tem déficit de 1,32 milhão de toneladas, enquanto Dourados é um dos poucos municípios com superávit, com capacidade de 2,35 milhões de toneladas.

Outro ponto de atenção é a concentração da capacidade instalada: apenas cinco municípios concentram 49% da capacidade total, mas respondem por 38% da produção estadual.

Projeções e desafios

As projeções apontam crescimento contínuo da produção agrícola, o que tende a agravar o déficit de armazenagem se novos investimentos não forem feitos. A safra nacional de grãos deve chegar a 350,2 milhões de toneladas em 2025, alta de 16,3% em relação a 2024.

Nesse cenário, o Governo do Estado aposta em crédito com juros mais baixos, como o do FCO, para incentivar a construção de armazéns. “É fundamental fomentar o apoio aos produtores, especialmente por meio do acesso a recursos como o FCO. Essa medida representa um caminho promissor para os produtores locais, com potencial para aprimorar significativamente a formação de preços no Estado, configurando-se como uma questão estratégica”, pontuou o secretário.

O levantamento ressalta que, sem ampliação da infraestrutura, crescem os riscos de perdas pós-colheita, os custos logísticos e a pressão sobre o escoamento da produção. A dependência do modal rodoviário, especialmente ao longo da BR-163, e a distribuição desigual dos armazéns são entraves que encarecem o transporte.

“A questão da armazenagem está intrinsecamente ligada à logística. A ausência de capacidade adequada impede o produtor de obter preços mais vantajosos. Em suma, ampliar a capacidade de armazenagem nas propriedades rurais é o principal desafio. A falta de espaço força o produtor a vender rapidamente, muitas vezes a preços menos favoráveis”, admite o secretário.

Enfrentamento

Verruck avalia que o estudo da Aprosoja/MS reforça a necessidade de enfrentar o déficit de armazenagem para garantir o crescimento sustentável do agronegócio sul-mato-grossense. “Apesar do déficit existente, há ações em curso, como o apoio ao produtor rural por meio do FCO e o suporte às cooperativas via Procoop, que visam aproveitar as oportunidades nas áreas de expansão, promovendo o desenvolvimento da infraestrutura de armazenagem. Projetos como a reativação da malha ferroviária, o uso da hidrovia do Rio Paraguai e a implementação da Rota Bioceânica são estratégicos para diversificar os modais e ampliar a competitividade do Estado nesse quesito”, complementa.

O secretário também destacou a diversificação da base produtiva de Mato Grosso do Sul. “Observa-se, por exemplo, a clara necessidade de expandir a capacidade de armazenagem segregada para diferentes culturas, além da soja e do milho. O sorgo, por exemplo, requer soluções específicas de armazenamento. Portanto, é imperativo ampliar a infraestrutura para atender à crescente diversificação das culturas. A falta de locais adequados, somada à utilização dos mesmos armazéns para diferentes grãos, limita o escoamento da produção”, concluiu.


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