Por Ogg Ibrahim
Ele assumiu recentemente uma das mais importantes instituições do estado: a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de Mato Grosso do Sul (OAB/MS), que congrega mais de 17 mil advogados ativos em MS. Na eleição, somou 4.410 votos, em disputa com as advogadas Raquel Magrini (3775 votos) e Giselle Marques (397 votos).
Campo-grandense de nascimento e criação, Luis Cláudio Alves Pereira, mais conhecido como Bitto Pereira, não é de uma família tradicional de advogados; seu pai, ex-militar, era paraquedista. Em sua história, foi o judô que lhe possibilitou alçar novos voos, ele foi atleta bolsista em uma escola particular e, aos 16 anos, se tornou faixa-preta e passou a dar aula para custear a faculdade. Durante a sua trajetória, as lições do esporte se uniram à advocacia e hoje, recém-empossado na OAB/MS, Bitto conta a sua caminhada de sucesso e as expectativas para os próximos três anos de gestão.
Ogg Ibrahim: A eleição para a OAB/MS foi acirrada. Como você analisa a disputa?
Bitto Pereira: Uma campanha da OAB é sempre desafiadora, importante não apenas para a classe advocatícia, mas também para toda a sociedade. A última disputa foi acirrada, mas procurei me pautar nas propostas, com uma postura serena e respeitosa e com foco no debate de ideias, ideais e propósitos. Acredito que por isso tive a maior votação da história, nos mais de 40 anos da OAB/ MS. Uma vitória que eu sempre conjugarei no plural: nós vencemos! Tivemos uma chapa formada por mais de 90 profissionais da advocacia de MS, de todas as áreas. Foi uma vitória democrática, que mostra que trilhamos um caminho correto.
OI: Você já fazia parte da diretoria da OAB, como membro do Conselho Federal e da Escola Superior de Advocacia. Acredita que isso ajudou na eleição?
BP: Eu creio que a trajetória de mais de 20 anos trabalhando em prol da advocacia, desde o início da minha vida profissional, certamente foi medida nesta eleição. Eu comecei na OAB com 22 anos, como primeiro presidente da Comissão da Jovem Advocacia, e integrei o Conselho Federal e a Escola Superior de Advocacia. Em qualquer eleição, naturalmente, os eleitores buscam saber a biografia e a história dos candidatos e eu fi z questão de contar a minha caminhada na campanha. A escolha do meu nome não veio da criação de um produto de marketing, foi uma escolha natural dentro de um processo seletivo - e essa escolha se pautou em um trabalho feito coletivamente. Minha história foi importante, mas foi a vitória de um trabalho coletivo.
OI: Você foge do cenário no qual os filhos seguem as carreiras dos pais, como é tradicional no direito. Como nasceu essa paixão pela advocacia?
P: Se eu herdasse a carreira do meu pai, eu seria paraquedista. Ele fez 73 anos em dezembro e continua em atividade no paraquedismo. Desde muito novo, eu tinha a ideia de ser advogado e fui estudar direito. Mas eu nunca pensei em um dia prestar concurso para seguir na magistratura, Ministério Público ou qualquer outra carreira, sempre almejei a advocacia.
OI: Essa inspiração veio de um desejo pessoal baseado em que?
BP: Talvez por ter um senso de justiça desde muito novo, nas relações pessoais e familiares, e por desejar um mundo igualitário, reflexo da formação que eu tive com meus pais e na escola. Eu estudei no Lúcia Martins Coelho, colégio estadual, e, quando estava na 6ª série, fui para o Dom Bosco como bolsista. Na época, eu praticava judô e futebol com intensidade e por isso consegui uma bolsa de estudos como atleta. Se fosse pelas condições dos meus pais, eu não teria estudado em uma escola particular. Eu agradeço muito por essa formação.
OI: Você se tornou faixa-preta muito cedo. O esporte também lhe deu uma visão diferente da vida?
BP: Não só me deu, como até hoje é muito presente na minha vida. Fui faixa-preta com 16 anos e comecei a dar aulas de judô para ajudar a pagar a faculdade. No judô, aprendi uma filosofia que eu levo para a vida: todo empenho e todo mérito uma hora serão reconhecidos. Assim é no esporte, assim é na vida. É preciso vencer pelo mérito: o professor ensina, mas não luta pelo aluno. É o mérito que importa. Quero que a minha história sirva de exemplo para muitos jovens que desejam entrar para o direito, mas não têm condições. Quero que pensem: “Se ele, que não nasceu em berço de ouro nem veio de uma família com tradição na área jurídica, foi eleito presidente da OAB, por que eu não posso chegar lá também?”.
OI: Falando em juventude, muitos jovens advogados reclamam da falta de apoio no início da carreira. Qual o seu plano para os novos advogados?
P: Eu tenho uma mensagem de otimismo. Na gestão passada, nós, de MS, levamos ao Conselho Federal da OAB uma lei para que o advogado possa fazer marketing jurídico, com o provimento que saiu há seis meses. Além disso, agora em janeiro, nós vamos lançar um plano de trabalho, por meio do nosso LITEC (Laboratório de Inovação e Tecnologia), que dará mentoria aos jovens advogados sobre todo o passo a passo da profissão, de forma online.
OI: Já assisti a várias palestras que dizem que a profissão de advogado pode desaparecer nos próximos anos por causa de aplicativos que, hoje, já podem exercer a função do advogado. Você acredita nisso?
BP: É fato que a evolução digital é uma realidade cada vez mais presente. Acredito que essas sejam ferramentas de auxílio à advocacia, mas que jamais substituirão a atividade da advocacia. Nada jamais substituirá a presença humana de um advogado num tribunal, quando ele tem que fazer uma sustentação oral, com eloquência e forma de convencimento. Inteligência artificial nenhuma substituirá a atuação de um advogado quando um sujeito for preso de madrugada, levado para a delegacia e precisar de um advogado ali, firme para defendê-lo. Não haverá um computador que fará o trabalho de convencimento, de mostrar e defender uma tese. A forma de um advogado se expressar tem absoluta diferença no resultado de um julgamento, por exemplo. O que está vindo, com certeza serão ferramentas que nos ajudarão, mas jamais nos substituirão
OI: Em relação à evolução das leis, ainda temos leis muito antigas que não evoluíram como a sociedade. Qual radiografia você faz disso?
BP: É claro que temos leis muito arcaicas, que precisamos de mais evolução, mas temos sim uma Constituição que ainda é muito boa e atual e o nosso sistema jurídico funciona! Tem falhas? Obviamente que sim! Claro que precisamos buscar mecanismos que tornem a justiça mais célere, mas o que temos hoje é muito melhor do que tínhamos há 10 anos, 20 anos. O problema maior que enfrentamos hoje - mas não é uma luta só daqui de MS - é o funcionamento da justiça em termos de pessoal. Precisamos ter mais funcionários que acompanhem os processos, deem vazão à quantidade cada vez maior de processos existentes. Esse é o maior desafio.
OI: Qual será a sua primeira decisão como presidente?
P: Nossa primeira medida é lançar a Caravana das Prerrogativas, para que todo advogado tenha condições de trabalho. Quando um advogado vai defender um preso, por exemplo, ele tem que conhecer o inquérito, saber das acusações, ter amplo acesso ao seu cliente para conduzir o processo. Se o advogado não tem essa condição respeitada, quando essa condição é violada, o cidadão acaba sendo mal atendido. Nós vamos em todas as subseções da OAB em MS para apurar denúncias sobre, por exemplo, delegacias que não estão cumprindo esse direito. E vamos levar essa situação às autoridades, sempre com diálogo sereno, mas firme, como tem que ser a postura de um presidente da OAB, para que essas condições sejam respeitadas.
OI: Quais são os principais desafios que você prevê numa administração como essa?
BP: Acompanhar inovações tecnológicas que aumentam a cada dia - por isso, temos o laboratório criado para esse fim. Precisamos, ainda, cuidar das condições de trabalho da advocacia (prerrogativas e honorários) e da retomada dos serviços judiciais presenciais, para que eles retornem com a maior brevidade possível, porque nós precisamos disso. Esses são os principais desafios para os próximos três anos
OI: Sobre a eleição direta para a presidência do Conselho Federal da OAB, uma demanda de quase todos os advogados do país. Como você avalia?
BP: Eu defendo isso há mais de dois anos, pois sempre compreendi que, para assumirmos qualquer cargo na OAB, devemos obedecer a um processo democrático – eu fui eleito assim. O Conselho Federal da OAB ainda não tem isso, mas estou otimista que na próxima eleição já teremos uma eleição direta para todos os cargos da OAB, sobretudo para o cargo maior da ordem.
OI: Você passou pelo esporte, já está há 20 anos dentro da OAB, quais são seus sonhos e anseios agora?
BP: A advocacia me possibilitou realizar os sonhos que eu tinha na infância, como viajar pelo mundo. Não tenho sonhos materiais, apenas existenciais. Do ponto de vista profissional, almejo fazer um bom mandato nos próximos três anos, trabalhando diuturnamente pela advocacia. Se, daqui três anos, formos lembrados como a gestão que cumpriu os compromissos de campanha, que teve olhos verdadeiros, foi acolhedora para toda a advocacia e deixou uma OAB de portas abertas, se eu cumprir isso, realizarei os sonhos profissionais que tenho neste momento. Desejo continuar com saúde para, no futuro breve, poder voltar a conhecer lugares magníficos pelo planeta.
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