Por redação
Em 2022, quase sete milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estudavam e estavam sem ocupação, representando 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros da mesma faixa etária nessa situação. Desse total, mais de dois milhões de mulheres apontaram que o principal motivo para não ingressarem no mercado de trabalho foi a necessidade de cuidar das tarefas domésticos ou de familiares.
De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo conhecido como "nem-nem", ou "Neno" segundo a sigla utilizada pelo pelo instituto (jovens que não estudam e nem estão ocupados), teve uma queda de 14,3% em relação ao ano anterior, embora o padrão demográfico permaneça inalterado. A maioria consiste em mulheres, sendo 4,7 milhões pretas ou pardas e 2,1 milhões brancas. A pesquisa foi divulgada na última quarta-feira (6) e analisou as condições de vida da população brasileira em 2023, explorando temas como mercado de trabalho, indicadores de rendimentos, condições de moradia e educação.
Outras 553 mil mulheres que procuravam emprego também mencionaram o trabalho do cuidado como impeditivo. Ao todo, portanto, mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam em 2022 para cuidar de parentes ou de tarefas domésticas.
A título de comparação, o contingente de homens que saíram do mercado pelo mesmo motivo e não procuravam emprego foi de 80 mil — número que não representa nem 4% do total de mulheres na mesma situação. O principal motivo alegado por eles foram os problemas de saúde, com 420 mil.
Entre aqueles que queriam trabalhar, apenas 17 mil mencionaram questões domésticas. A alegação mais recorrente, para 356 mil homens, é a de que não havia trabalho na localidade. Entre as mulheres, 484 mil mulheres disseram o mesmo.
Vale mencionar que essa diferenciação acontece porque os jovens Neno podem estar fora da força de trabalho ou desocupados. Já quem procura emprego é considerado desocupado pelo IBGE. Em 2022, 65,9% estavam fora da força de trabalho e 34,1% desocupados.
Por diferentes motivos — como estudo, falta de trabalho disponível ou cuidado — 4,7 milhões de jovens não procuraram trabalho e nem gostariam de trabalhar, segundo o instituto.
Veja os números de gênero e raça:
• Entre os jovens de 15 a 29 anos do país, 10,8 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022;
• Um em cada cinco jovens brasileiros desta faixa etária (22,3%) faziam parte do grupo dos Neno;
• Do total, 6,9 milhões são mulheres e 3,9 milhões são homens;
• Também do total, 7,4 milhões são pretos ou pardos (67,6%) e 3,4 milhões são brancos (31,5%);
• No corte de raça, o maior grupo são as mulheres pretas ou pardas, com 4,7 milhões (43,3%);
• Já o menor grupo são os homens brancos, com 1,2 milhão (11,4%);
• Mulheres brancas são 2,1 milhões (20,1%) e homens pretos ou pardos, 2,6 milhões (24,3%);
Negros e mulheres têm rendimentos piores - A pesquisa do IBGE evidencia também dados clássicos da desigualdade no mercado de trabalho.
No quesito renda, por exemplo, os profissionais brancos continuam a ganhar 61,4% a mais por hora trabalhada que pretos e pardos. A métrica vale para todos os níveis de instrução, mas a média geral é de R$ 20 por hora para brancos e de R$ 12,40 para negros.
Além disso, a série histórica do IBGE mostra que essa distorção de raça pouco se mexeu ao longo dos últimos 10 anos. Em 2012, a média de rendimentos de brancos era 69,8% maior que de negros.
Dividido por instrução, a diferença mais relevante é no nível mais alto de instrução, o ensino superior. A diferença chega a 37,6%, sendo R$ 35,30 para brancos versus R$ 25,70 para pretos e pardos.
Veja abaixo as demais, sempre com rendimento de brancos sendo o maior:
• Total: R$ 20 x R$ 12,40
• Sem instrução ou fundamental incompleto: R$ 10,90 x R$ 8,40
• Fundamental completo: R$ 11,60 x R$ 9,30
• Médio completo: R$ 14,10 x R$ 11,10
• Superior completo: R$ 35,30 x R$ 25,70
O IBGE mostra, por fim, que o país prossegue com forte diferenciação na distribuição de atividades de trabalho, que impactam nos salários. Enquanto brancos são maioria em setores como Informação e Serviços Financeiros, pretos e pardos são mais numerosos em atividades como Serviços Domésticos (66,4%), Construção (65,1%) e Agropecuária (62%).
No recorte por gênero, a média de rendimentos de homens é 14,9% maior que de mulheres. No ensino superior, a relação sobe para 43,2% — diferença ainda mais agressiva que o corte interracial. Além disso, o nível de ocupação dos homens alcançou 63,3% e o das mulheres, 46,3%.
Quanto à qualidade de emprego, os pretos e pardos ficam bem atrás dos brancos. As mulheres do grupo compõem o maior percentual de informalidade no mercado de trabalho, com 46,8% das profissionais. Os homens negros não ficam tão atrás, com 46,6%.
Em comparação, mulheres brancas na informalidade são 34,5%. Os homens brancos, novamente no menor contingente, são 33,3% informais.
Informais são empregados e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a previdência social, além de trabalhadores familiares auxiliares. Em 2022, 40,9% dos trabalhadores do país estavam em ocupações informais.
Mas há também os dados de subutilização, que são pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas ou na força de trabalho potencial — aqui se encaixam os Neno. E para a taxa composta de subutilização, os índices também mais elevados são para as mulheres e para as pessoas de cor ou raça preta ou parda.
A taxa de subutilização para homens era de 16,8%, enquanto chegava a 25,9% para as mulheres. Entre os brancos, eram 16,2%. Para negros, 24,6%.