Pesquisadores de MS desenvolvem corante a partir de microrganismo do Pantanal

Financiada pela Fundect, pesquisa é realizada pela Startup Arandu Biotecnologia

17/11/2023 00h00 - Atualizado em 17/11/2023 às 16h38

Por redação

A startup Arandu Biotecnologia desenvolveu um corante vermelho intenso a partir de microrganismos do Pantanal. Em resposta à crescente demanda por produtos naturais e sustentáveis, a substancia é produzido com tecnologia limpa e totalmente natural.

O produto é um forte concorrente para substituir o carmim de cochonilha, o corante vermelho mais utilizado pela indústria mundial. A criação da startup começou nos laboratórios da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde uma pesquisa focada em substâncias bioativas no bioma sul-mato-grossense revelou a existência de microrganismos capazes de produzir colorações naturais. Entre eles, uma cepa destacou-se pela geração de uma substância vermelha.

Após a realização de vários testes, os pesquisadores envolvidos perceberam um potencial produto. A iniciativa sul-mato-grossense recebeu financiamento para transformar a pesquisa em inovação após ser uma das selecionadas no Programa Centelha II, parceria da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

A percepção do potencial desse composto levou os pesquisadores Arthur Ladeira Macedo, Denise Brentan da Silva e Edson dos Anjos dos Santos a unirem suas expertises em química e farmácia, consolidando assim a biotecnologia por trás do corante. “Apesar da mesma espécie existir em outros locais, a cepa do Pantanal que identificamos é singular por ser um indivíduo com características únicas, que ao longo do tempo se adaptou àquele ambiente em específico, com influência de solo, clima, umidade, entre outros fatores. Por isso, podemos dizer que é uma cepa pantaneira", destaca o pesquisador doutor Arthur Ladeira Macedo, coordenador do projeto, com experiência em produtos naturais bioativos.

Segundo doutora em Ciências de Produtos Naturais e Sintéticos, Denise Brentan a substância vermelha produzida pelo microorganismo encontrado no Pantanal tem vantagens físico-químicas em relação a outros corantes naturais, como cor intensa, estabilidade e solubilidade em água, características interessantes para os mercados alimentício, cosmético e até têxtil. “Temos outros pigmentos naturais bastante conhecidos aqui no Brasil, como o urucum, por exemplo, mas ele não é solúvel em água o que dificulta a aplicação em diversos produtos, além de sofrer degradação e assim ter problemas com relação à estabilidade”.

O corante desenvolvido pela Arandu é baseado na bioeconomia, que utiliza recursos naturais e novas tecnologias com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis. O doutor em Química, Edson dos Anjos dos Santos explica que o processo de fabricação do corante é feito totalmente em laboratório, a partir de uma cepa do microrganismo, sem necessidade de exploração do bioma. “Ali damos as condições ideais para ele se multiplicar e produzir o corante. É uma produção limpa, orgânica, sem matérias primas de base animal, sem necessidade de uma área agricultável e sem a utilização de solventes como acontece na produção dos corantes artificiais”.

Todas estas características tornam o produto um concorrente de peso para substituir o carmim de cochonilha, hoje o corante vermelho natural de melhor qualidade e mais utilizado pela indústria mundial, produzido a partir do inseto Dactylopius coccus. “O Peru é responsável por 80% da produção mundial de cochonilha para corante. Os insetos são criados em áreas de plantação de palmas, mas por serem pragas agrícolas são proibidos em muitos países, inclusive no Brasil, o que torna o produto extremamente caro”, explica Santos.

O coordenador do projeto, Arthur Ladeira Macedo lembra explica que o carmim de cochonilha é reprovado pelo crescente mercado vegano e também possui restrições nas culturas kosher e halal que, por questões religiosas, não aceitam produtos à base de insetos. “Nosso produto se encaixa completamente no conceito de ESG, Ambiental, Social e Governança, e isso facilita a entrada na Europa e EUA que são hoje os mercados que mais demandam essas alternativas. Também pode, no futuro, atender os mercados crescentes do oriente”.

Por enquanto o corante vermelho é o carro chefe da startup que está aperfeiçoando o processo de produção para ganhar escala, fazendo testes para registros e buscando parcerias para validar o uso nos mais diversos produtos. Mas a busca por novos bioativos continua. “A Arandu é baseada na biodiversidade, por isso é importante pensarmos em estratégias de conservação. Podemos perder riquezas únicas sem nem sequer tê-las estudado e nem sempre a ciência já desenvolveu tecnologias suficientes para conseguir compreender todo o seu potencial”, reforça Denise Brentan da Silva.


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