Por redação
O debate do segundo turno para a Presidência da Argentina ocorreu no último domingo (12), com embate acalorado entre os candidatos. Sergio Massa direcionou o foco de suas falas para as propostas de Javier Milei, expondo possíveis falhas e inconsistências. Ao todo, foram discutidos seis blocos temáticos que abordaram questões como economia, relações internacionais, educação, saúde, trabalho, segurança pública e democracia. Os argentinos voltam as urnas para decidir seu próximo presidente no próximo domingo (19).
No decorrer do embate, o atual ministro da economia demonstrou controle e agilidade nas perguntas e respostas, enquanto o libertário, embora tenha alfinetado o oponente em diversas ocasiões, encontrou menos espaço para se destacar. Em suas falas, Massa concentrou-se em apertar o oponente sobre suas declarações, especialmente críticas que faz sobre o Brasil e à China. Milei reiterou sua postura de que não se importa muito com o tema brasileiro. A última pesquisa de intenção de votos que antecede a votação indica um empate técnico entre os candidatos, com leve vantagem para Milei.
O programa teve seis blocos temáticos, e logo no primeiro, que abordou a economia, Massa apertou Milei com perguntas diretas: "Pretende acabar com subsídios? Acabar com o Banco Central? Vai dolarizar a economia?".
Milei pareceu surpreendido "Não é algo de sim ou não", afirmou. Massa insistiu e o rival confirmou que pretende acabar com o Banco Central e dolarizar a economia, mas sem detalhar os planos. Disse ainda que manteria inicialmente os subsídios, que barateiam itens como o transporte público e a conta de luz, e que a privatização das reservas de gás e petróleo de Vaca Muerta são "uma questão provincial".
Massa retrucou que o Zimbábue dolarizou sua economia e a Micronésia acabou com o Banco Central. Milei se exaltou e voltou a atacar o sistema político, que chama de casta, mas ficou sem tempo. O modelo do debate previa seis minutos para cada candidato por bloco temático, e Massa gerenciava melhor a sua cota. Ao final, teve quase dois minutos para falar, enquanto o rival tinha poucos segundos. Com isso, o fato de que Massa é o atual ministro da Economia mal foi explorado por Milei.
A temperatura foi aumentando, com os candidatos tentando falar ao mesmo tempo em várias ocasiões. Ao menos duas vezes, os moderadores tiveram de intervir e pedir calma. Ambos se acusaram de mentirosos diversas vezes.
No segundo tema, sobre as relações da Argentina com o mundo, Massa voltou a apertar o rival sobre suas declarações, como as críticas ao Brasil e à China. Milei disse que as relações comerciais ficariam a cargo do setor privado, e que se houvesse problema com os países, o comércio poderia ser triangulado, passando por um terceiro país.
Sobre o Brasil, manteve a postura de que não se importa muito com o tema. "Qual o problema se eu não falar com Lula? Alberto Fernández não falava com Bolsonaro", disse Milei. Massa respondeu que ele mesmo, como ministro, se reuniu com o presidente brasileiro, e insistiu que as relações comerciais dependem de negociações entre os países, enquanto Milei repetia que defendia um comércio livre e sem restrições, com escolha livre das empresas.
Ainda neste tema, houve espaço para Massa questionar Milei sobre os ataques ao Papa Francisco. O libertário disse que respeita o pontífice e o receberia na Argentina com honras de chefe de Estado.
Neste bloco, houve espaço ainda para uma comparação curiosa, entre a ex-primeira-ministra britânica Margareth Tatcher e jogadores de futebol. Massa questionou o rival por idolatrar a líder britânica mesmo ela tendo comandado uma vitória militar contra a Argentina em 1982. "Com este critério, quando Mbappé, com os gols que ele fez na final, teria que desprezá-lo porque fez gols contra nós. Uma coisa não tem que ver com a outra. Houve uma guerra e a perdemos", respondeu, emendando que defende a soberania argentina sobre as ilhas Malvinas, ou Falklands, que são um domínio britânico.
No terceiro tema, sobre educação e saúde, Milei afirmou que pretende manter ambas gratuitas, e ressaltou que isso é uma questao que não compete apenas ao governo federal, mas também a províncias e municípios. O libertário também disse que não pretende colocar cobranças em universidades públicas.
Depois de 50 minutos sem pausa, houve um intervalo. Na volta, os dois candidatos pareciam mais comedidos. Ao debater o tema trabalho, Massa prometeu gerar 2 milhões de empregos, enquanto Milei acusou o ministro de integrar um governo corrupto, que cria regras e limitações econômicas para favorecer amigos. O ministro retrucou que se o rival tinha alguma denúncia, que iria com ele ao tribunal para formalizá-la na segunda-feira. Massa disse ainda que não tinha amigos empresários, o que gerou risadas na plateia.
Na reta final, nos blocos sobre segurança pública e democracia, Milei fez mais alguns ataques a Massa, como o de que o governo atual fez um crime de "lesa-humanidade" ao estabelecer regras de restrição na pandemia.
A lei argentina proíbe a divulgação de pesquisas na semana antes da eleição, de modo que não haverá estudos públicos sobre os efeitos do debate na corrida eleitoral. Os últimos estudos apontaram empate técnico entre os dois, com ligeira vantagem para Milei.
Os argentinos votam no segundo turno no próximo domingo, dia 19, e a posse do novo presidente está marcada para o dia 10 de dezembro.