2,1 milhões de brasileiros trabalham por aplicativo ou plataforma digital

Primeira pesquisa com dados sobre o trabalho por aplicativo no país foi divulgada nesta quarta-feira (25) pelo IBGE

26/10/2023 00h00 - Atualizado em 26/10/2023 às 20h36

Por redação

A demanda de trabalho por aplicativos aumentou no Brasil. Conforme levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,1 milhões de indivíduos realizavam atividades por meio de plataformas digitais como ocupação principal. As plataformas utilizadas são aplicativos de serviços ou operações de comércio eletrônico. Deste total, 1,5 milhão de pessoas, o equivalente a 1,7% da força de trabalho no setor privado, utilizavam aplicativos de serviços, enquanto 628 mil se dedicavam às plataformas de comércio eletrônico.

A população economicamente ativa brasileira foi estimada em 87,2 milhões de pessoas durante o último trimestre do ano passado e é composta pela população de 14 anos ou mais empregados no setor privado, excluindo funcionários públicos e militares. Esses números fazem parte do módulo Teletrabalho e Trabalho por Meio de Plataformas Digitais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgado na última quarta-feira (25) pelo IBGE. O órgão ressalta que essas estatísticas são de caráter experimental e estão em fase de testes e avaliação.

O grupamento das atividades transporte, armazenagem e correio foi o que reuniu mais trabalhadores (67,3%). O grupo abrange tanto o serviço de transporte de passageiros quanto os serviços de entrega, que são os aplicativos mais frequentes. Em seguida, aparece o setor de alojamento e alimentação, com 16,7%. O analista responsável pelo levantamento Gustavo Geaquinto relata que esse aumento ocorreu devido ao uso de plataformas por restaurantes e bares. “Aqui é sobretudo por causa dos estabelecimentos de alimentação, que usam as plataformas de entregas para clientes”.

O principal trabalho realizado por meio de aplicativos digitais é o de transporte de passageiros. Em ao menos um dos dois tipos analisados de táxi ou excluindo táxi, grupo alcançou 52,2%, ou 778 mil, do total de trabalhadores de plataformas. Nos aplicativos de entrega de comida ou produtos trabalhavam 39,5%, ou 589 mil. Já os trabalhadores de aplicativos de prestação de serviços gerais ou profissionais representavam 13,2% ou 197 mil.

A categoria de emprego mais usada foi a "feita por conta própria" (77,1%). “Empregados com carteira assinada eram apenas 5,9% dos plataformizados, enquanto no setor privado, os empregados com carteira eram 42,2 %. Havia uma forte prevalência dos trabalhadores por conta própria no trabalho plataformizado”, afirmou Geaquinto.

O analista complementa que o grupo considera “fundamental a disponibilização de uma base de dados que possibilite melhor quantificar e compreender o fenômeno da plataformização do trabalho no país. Esse foi o objetivo da introdução do módulo na pesquisa”.

No levantamento, o aplicativo de transporte particular de passageiros foi a plataforma digital mais utilizada pelos usuários (47,2%), seguido do serviço de entrega de comida, produtos, etc (39,5%), do aplicativo de táxi (13,9%) e do aplicativo de prestação de serviços gerais ou profissionais (13,2%). Geanquinto relatou que “tem sido observado ao longo do tempo o aumento dessa forma de trabalho e esse fenômeno tem levado a importantes transformações nos processos e nas relações de trabalho, com impactos tanto no mercado de trabalho do país, como sobre negócios e preços de setores tradicionais da economia”. Ele alerta que pode haver qualquer tipo de sobreposição de uso de aplicativos de táxi pelos trabalhadores e, por isso, a soma ultrapassa 100%.

Quanto a região, o sudeste é o que mais possui trabalhadores plataformizados, com 57,9%, ou 862 mil pessoas, do total de trabalhadores plataformizados. Segundo o levantamento, nas outras regiões, o percentual de pessoas ocupadas que realizavam trabalho por meio de aplicativos de serviços ficou entre 1,3% e 1,4%. A maior proporção de pessoas que trabalhavam com aplicativos de transporte particular de passageiros, excluindo os de táxi, estava na região Norte, com 61,2%, ou 14 pontos percentuais (p.p.) acima da média nacional.

Os homens (81,3%) representam a maioria dos trabalhadores plataformizados. Segundo o levantamento, o percentual é uma proporção muito maior que a média geral dos trabalhadores ocupados (59,1%). As mulheres eram 18,7% do total desses trabalhadores. Quanto a idade, quase a metade (48,4%) das pessoas estavam no grupo de 25 a 39.

Em termos de nível de instrução, os plataformizados concentravam-se nos níveis intermediários de escolaridade, com preponderância no nível médio completo ou superior incompleto (61,3%). Taxa de trabalhadores pertencentes a este grupo correspondem a 43,1% do total da população ocupada que não utilizava plataformas.

O rendimento dos trabalhadores plataformizados noº trimestre de 2022 foi 5,4% maior (R$ 2.645) que o valor médio do total de ocupados (R$ 2.513). “Para os dois grupos menos escolarizados, o rendimento médio mensal real das pessoas que trabalhavam por meio de aplicativos de serviço ultrapassava em mais de 30% o rendimento das que não faziam uso dessas ferramentas digitais. Por outro lado, entre as pessoas com o nível superior completo, o rendimento dos plataformizados (R$ 4.319) era 19,2% inferior ao daqueles que não trabalhavam por meio de aplicativos de serviços (R$ 5.348)”, apontou o levantamento.

Geaquinto informou que na distribuição por cor e raça, não foram observadas diferenças significativas entre os plataformizados e os que não utilizavam plataformas. Os brancos representavam 44% contra 43,9%, os pretos eram 12,2% contra 11,5% e os pardos 42,4 contra 43,4%.

No 4º trimestre de 2022, apenas 35,7% dos plataformizados eram contribuintes da previdência, enquanto entre os ocupados no setor privado eram 60,8%. Na informalidade a proporção de trabalhadores plataformizados (70,1%) era superior à do total de ocupados no setor privado (44,2%).

Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e procurador do Ministério Público do Trabalho, Rodrigo Carelli esse levantamento do IBGE joga luz no mercado de trabalho. “A função das plataformas é reduzir a remuneração dos trabalhadores. É uma coisa a olhos vistos, mas agora temos uma fotografia estatística que mostra isso. É de extrema importância e está dando luz para o problema dentro do mercado de trabalho”.

Para Carelli a comparação de trabalhadores na mesma função dentro e fora das plataformas mostra a diferença de remuneração. “Os trabalhadores que trabalham fora das plataformas, tanto entregadores como motoristas, recebem mais fora das plataformas. Esse para mim é o dado mais importante que tem dessa parte de remuneração”.

Ele reforça a importância de que as comparações sejam feitas em uma mesma profissão para avaliar o rendimento de cada um. “Entregador nas plataformas e entregador fora da plataforma. Eu não posso comparar um médico na plataforma com um entregador. Não tenho que comparar com o resto da população brasileira, porque as plataformas são somente um meio de gestão de trabalho. A parte mais importante que tem no achado em relação à remuneração é exatamente essa. Trabalhadores com o mesmo tipo de trabalhador. Se ele for trabalhar fora da plataforma ele ganha mais que na plataforma e ainda em o achado que eles trabalham muito mais horas nas plataformas do que fora das plataformas”.

Metodologia

A coleta dos dados do módulo inédito Teletrabalho e Trabalho por Meio de Plataformas Digitais da PNAD Contínua se refere ao 4º trimestre de 2022 entre a população ocupada de 14 anos ou mais de idade, exclusivamente o setor público e militares. O levantamento foi feito com base no trabalho único ou principal que a pessoa tinha na semana de referência.

O IBGE destacou que conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu em 2021, “as plataformas digitais de trabalho (ou de serviços),viabilizam o trabalho por meio de tecnologias digitais que possibilitam a intermediação entre fornecedores individuais (trabalhadores plataformizados e outras empresas) e clientes”.


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