Estudo aponta que em duas décadas mais de 40% das plataformas de gelo da Antártida perderam massa

Processo de degelo contribui para aumentar nível do mar, gerando consequências em várias partes do mundo

13/10/2023 00h00 - Atualizado em 18/10/2023 às 16h28

Por redação

Cientistas alertam que mais de 40% das plataformas de gelo flutuante na Antártida perderam volume ao longo de 25 anos. Como consequência do degelo, a ameaça de elevação do nível do mar aumenta. Essas plataformas são extensões das camadas de gelo que cobrem a maior parte da Antártida e flutuam nos mares que circundam o vasto continente gelado. Elas atuam como "amortecedores" que estabilizam as gigantescas geleiras, retardando o fluxo de degelo em direção ao oceano.

Os resultados de um estudo publicado na revista Science Advances na última quinta-feira (12) revelam que, entre 1997 e 2021, o volume de 71 das 162 plataformas de gelo monitoradas na Antártida diminuiu. Os cientistas analisaram mais de 100.000 imagens de radar via satélite para avaliar o estado das plataformas de contabilizadas. Essa descoberta destaca a vulnerabilidade do ecossistema da Antártida a mudanças ambientais significativas.

Líder do estudo e pesquisador da Universidade de Leeds, na Grã-Bretanha, Benjamin Davison destacou a preocupação com os efeitos dessa perda de gelo nas taxas de elevação do nível do mar. "A aceleração do degelo das geleiras devido à deterioração das plataformas de gelo adicionou uns seis milímetros ao nível do mar global desde o início do período estudado". Embora a Antártica só contribua em 6% com o aumento total do nível do mar, "poderia aumentar substancialmente no futuro se as plataformas de gelo continuarem se deteriorando", disse à AFP.

Os quase 67 trilhões de toneladas de gelo que se fundiram no oceano durante este quarto de século foram compensados com a produção de 59 trilhões de toneladas adicionais, o que representa um balanço líquido de 7,5 trilhões de toneladas de água doce derretida. "Esperávamos que a maioria das plataformas de gelo passassem por ciclos de encolhimento rápido, mas de curta duração, e em seguida se regenerassem lentamente", disse Davison.

O pesquisador ainda acrescenta que, sem o aquecimento provocado pelas atividades humanas, parte do gelo teria se regenerado nas plataformas da Antártica ocidental, devido a uma variação natural nos padrões climáticos. "Ao contrário, vemos que quase metade delas está encolhendo sem sinais de recuperação".

Desgaste constante da Antártica

Diferentes ventos e correntes oceânicas afetam a Antártica, o que provoca mudanças desiguais. Quase todas as plataformas de gelo da Antártica ocidental perderam volume, ao serem expostas a águas mais quentes que as erodiram por baixo. Só na plataforma de gelo Getz ocidental, o degelo na base foi responsável por 95% da perda líquida de 1,9 trilhão de toneladas de gelo.

O desprendimento de pedaços de gelo que vão parar no oceano, um fenômeno conhecido como 'calving', fez o resto. Anna Hogg, professora da Universidade de Leeds e coautora do estudo, disse que 48 plataformas de gelo perderam mais de 30% de sua massa inicial durante o período.

Na Antártica oriental, as plataformas de gelo se mantiveram, em sua maioria, iguais ou cresceram devido a uma faixa de água fria ao longo da costa que as protegeu das correntes mais quentes. "Estamos vendo um desgaste constante, devido ao derretimento e ao desprendimento... Esta é mais uma evidência de que a Antártica está mudando porque o clima está esquentando", acrescentou Hogg.

O derretimento das plataformas de gelo poderia ter implicações importantes para a circulação oceânica global, que transporta nutrientes vitais, calor e carbono a partir do ecossistema polar.

A água doce adicional poderia ter diluído as águas densas e salinas do oceano Austral, tornando-as mais leves, atrasando seu processo de afundamento e enfraquecendo potencialmente a corrente oceânica global. "O oceano absorve grande parte do calor atmosférico e o carbono, e o oceano Austral que circunda a Antártica é o maior contribuinte, razão pela qual é um regulador enormemente importante do clima global", disse Davison à AFP.


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