Por Victória Bissaco
São 46 anos que separam um Mato Grosso do Sul independente de Mato Grosso. Isso porque, nesta quarta-feira (11), os sul-mato-grossenses e residentes comemoram a fundação do estado. A Lei Complementar que concretizou a separação entre as unidades federativas foi assinada pelo general-presidente Ernesto Geisel, em 1977.
As tentativas de fundação do estado são anteriores à sétima década de 1900. O professor de História, Marcos Espíndola explica que a primeira tentativa ocorreu no final do século 19, impulsionada pelo poder econômico de uma empresa de erva mate, dona de muitas terras na região, e de pecuaristas.
“Então, essa divisão do estado começa no final do século XIX, por motivos econômicos e políticos ligados a Mato Grosso do Sul. Na verdade, o nome não seria necessariamente esse, mas do que seria hoje Mato Grosso do Sul”, pontua. Nessa primeira tentativa, tanto os pecuaristas quanto os representantes da empresa de erva mate buscavam Campo Grande como rota para São Paulo, e não Cuiabá, a então capital de Mato Grosso.
Nesse período, era muito comum buscar Campo Grande para acordos e negócios, e não a atual capital do Mato Grosso, “porque era muito mais rápido e uma viagem menor”, pontua o historiador.
Outro ponto que influenciou na separação, conforme Marcos Espíndola, foi a dimensão territorial do estado. Antes da divisão, Mato Grosso possuía 1,5 milhão de hectares. “Sempre existiu uma dificuldade muito grande de controle e de governo, para gente da região sul. Pelas diferenças e tudo mais, vão havendo até embates armados, como, por exemplo, durante a Revolução Constitucionalista”, descreve.
Essa revolução em questão diz respeito ao movimento iniciado em 1932, liderado pelo estado de São Paulo, que defendia uma nova Constituição para o Brasil e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Getúlio Vargas. “Sempre bom lembrar também que o sul do estado, que hoje em dia é a região sul de MS, já tinha uma dependência econômica muito grande da região norte. Politicamente falando, era uma região esquecida. Então, mesmo que dentro do mesmo estado, essas duas regiões funcionavam de maneira diferente”, explicou o professor de História.
Impulsionado por motivos econômicos e políticos, então, em 11 de outubro de 1977, o então general-presidente Ernesto Geisel assinou a Lei Complementar nº 31 dividindo Mato Grosso e criando o estado de Mato Grosso do Sul. O estado é o segundo mais novo do país, ficando atrás apenas de Tocantins.
Nos meados da década de 80, possuía 55 municípios. O desenvolvimento econômico, político e social de Mato Grosso do Sul resultou na criação de mais cidades e, em 2023, os sul-mato-grossenses habitam 79 municípios. Os dados do último Censo Demográfico, de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), apontam que são 2.756.700 habitantes no estado.
Mato Grosso do Sul é um dos estados brasileiros que se destacam pelas suas riquezas naturais e esforços contínuos para promover o turismo sustentável.
O estado é formado por três biomas importantes: Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica. Essa biodiversidade influencia no setor do ecoturismo, a área turística mais explorada em Mato Grosso do Sul. É um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações.
O professor de história, Marcos Espíndola relembra que foram quase 80 anos de luta pela emancipação do Mato Grosso do Sul. "Nesse meio-termo, por exemplo, durante o governo Dutra, a região de Pontacorã vai deixar de existir, vai se tornar uma cidade, vai perder o Mato Grosso, vai ter tentado criar o estado de Maracaju, por exemplo, também vai ter uma tentativa, está mostrando várias tentativas que vão fracassando até que a de 77 finalmente é colocada em prática, e o Geisel queria porque queria colocar o nome no estado do Pantanal e não o Mato Grosso do Sul, mas no final acabou sendo o Mato Grosso do Sul mesmo".
Essa questão de estado do Pantanal, inclusive, ganhou visibilidade mais uma vez neste ano após o deputado estadual Junior Mochi apresentar um projeto de lei à Assembleia Legislativa que coloca "Estado do Pantanal" como cognome do estado. Caso aprovado, o território será lembrado como Estado do Pantanal.