Por Wendell Reis | InvestigaMS
O Ministério Público Estadual abriu inquérito civil para apurar a oferta de atendimento hospitalar em nefrologia pediátrica e procedimentos de hemodiálise pelos hospitais públicos e conveniados ao SUS de Campo Grande.
A investigação acontece após denúncia de uma mãe, que relatou a precariedade do atendimento, que levou a morte da filha. “Considerando que a criança que veio a óbito no hospital necessitava de hemodiálise pediátrica, porém no hospital não havia os insumos necessários para realização de referido procedimento, tampouco médico nefrologista pediátrico para acompanhar a realização do procedimento”, diz parte da justificativa para o inquérito.
Segundo a denúncia, houve falta de materiais básicos para a realização de hemodiálise para a criança, paciente pediátrico no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, o que fez o MPE investigar o atendimento e o abastecimento com os insumos necessários para a realização dos procedimentos de hemodiálise.
A mãe informou que no dia 20 de junho de 2023, a escola em que a criança estudava entrou em contato para relatar que ela havia vomitado e feito força para evacuar, razão pela qual a buscou a criança na escola e a levou à UPA Universitário.
A criança ficou na UPA por um dia e meio, sem apresentar melhoras, até que o médico informou que a criança seria encaminhada para o Hospital Regional. Entretanto, como não havia ambulância no momento, a mãe levou a criança de carro até o Hospital Regional.
A criança foi levada ao centro cirúrgico no dia 22 de junho, onde permaneceu por 6 horas no aguardo de procedimento cirúrgico. O médico que realizou a cirurgia informou que o procedimento havia sido muito complexo e que o intestino da criança estava perfurado.
Ainda segundo a declarante, aproximadamente três dias após a cirurgia, a criança apresentou as extremidades dos dedos dos pés e mãos escuros, apesar de ter apresentado melhoras. No dia 01/07/2023, a mãe foi informada de que criança necessitava de hemodiálise, mas que no Hospital Regional não havia especialidade de nefrologia pediátrica, e que faltavam no hospital linhas para hemodiálise modelo neonatal e capilar para hemodiálise
A mãe tentou comprar os insumos em lojas de materiais hospitalares de Campo Grande, porém não encontrou na especificação necessária, razão pela qual entrou em contato com a Defensoria Pública (Defensoria de Urgência), a fim de solicitar a transferência ou o equipamento para a hemodiálise da criança. Neste tempo, o HR obteve os insumos necessários à realização da hemodiálise por meio de empréstimo do Hospital Universitário
No mesmo dia, no plantão das 18 horas, a médica avaliou a criança e informou à avó que menina não apresentava sinais cerebrais, e comunicou à declarante que a criança estava com morte cerebral, informação atestada no dia 03/07/2023. A criança ainda permaneceu no hospital até que os seus órgãos pararam de funcionar no dia 04/07/2023.
A mãe ainda tomou ciência de que que no domingo, dia 02/07/2023, o juiz de plantão concedeu ordem para que a criança fosse removida para UTI particular, porém esta decisão não foi cumprida, pois a hemodiálise já havia sido realizada.
A promotora Daniela Guiotti fez várias denúncias ao MPE: 1)as mães fazem alimentação dentro da UTI pediátrica; 2) ninguém fiscaliza a limpeza das mãos e pés das pessoas que entram na UTI; 3) os enfermeiros entram e saem do hospital com os jalecos, inclusive no restaurante em frente ao hospital; 4) a falta de medicamentos e insumos, como o noticiado acima, para hemodiálise. 5) uma mãe de criança relatou à declarante a falta de nutrição especial para o filho deficiente, que está internado no hospital; 6) possível erro médico no procedimento de hemodiálise realizado em SOFFIA; 7 ) o leitor do raio x não funcionava.
A promotora pediu que as secretarias de saúde indiquem os hospitais públicos e conveniados ao SUS de Campo Grande que prestam atendimento hospitalar em nefrologia pediátrica e realizam procedimentos de hemodiálise em crianças (inclusive bebês).
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