Raízes: a história de quem plantou e criou

Conheça um pouco sobre a história do agro

21/08/2023 00h00 - Atualizado em 21/08/2023 às 19h10

Zé Padua

Assim como todos os demais setores da economia, o Agronegócio brasileiro é pautado na dinâmica do mercado: oferta e demanda. Sobre a terra, são plantados e criados produtos para vendê-los às pessoas. Porém, nenhum produto se vende sozinho, há de se ter estratégias de comunicação para convencer e fidelizar clientes.

Nesse âmbito, existe uma técnica muito usada que é o “storytelling”, que nada mais é do que contar a história do produto com o intuito de persuadir o consumidor a comprá-lo, não só uma vez, mas com constância. As empresas do Agro têm utilizado muito bem essa técnica de “contar a história” de seus produtos.

Mas, o Agronegócio tem conseguido contar sua história para a sociedade e para os demais setores da economia? Como está a “venda” da nossa história? Será que sabemos, de fato, sobre a nossa história para contá-la ao público em geral?

Na minha percepção, sabemos pouco sobre a nossa história enquanto setor. Talvez por desinteresse, falta de conteúdos relevantes na televisão, no cinema e no streaming, além da fraca, ou distorcida, abordagem no ensino escolar. São muitos os fatores, mas o fato é que, sem esse conhecimento da história do Agro, fica difícil aplicar as técnicas de storytelling, mesmo tendo um baita produto para vender, que é a nossa própria história.

A história a que me refiro é a trajetória de várias famílias. Bravos homens e mulheres que com um espírito empreendedor e pioneiro desbravaram o sertão brasileiro, nos tempos coloniais. Brasileiros de várias origens e miscigenações, brancos, negros, índios, caboclos, mamelucos, cafuzos e imigrantes. Foi preciso o vigor híbrido para vencer os obstáculos da natureza, que, embora rica e generosa, sempre foi implacável com seu sol escaldante, suas madrugadas frias, ervas venenosas, bichos grandes ferozes e pequenos letais.

Juntos dessas famílias, empresas, cientistas e pesquisadores desvendaram os segredos para se produzir nesta terra tropical, que diferente do que pensavam os portugueses, não era bem aquele paraíso beira-mar. O Brasil profundo, no Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa e Amazônia, demandava conhecimento e tecnologia para se produzir. Em sua maioria, as terras eram de baixa aptidão agrícola. Não bastava a esperança e sabedoria do caboclo, a destreza científica foi fundamental para alcançarmos umas das maiores produtividades agrícolas do planeta. Hoje somos o celeiro do mundo.

Por não ter sido nada fácil, essa história traz um legado de luta e perseverança. Foram tempos árduos, em que sangue, suor e lágrimas foram derramados por esse chão brasileiro. Momentos de dor, de perda, de desassossego. Sim, houve falhas, desvios de rotas e descaminhos. Aos trancos e barrancos, o Agro triunfou. Evoluímos de uma produção rudimentar para um setor altamente tecnológico, com cadeias produtivas integradas, atendendo um mercado consumidor globalmente conectado. Nosso país deixou de ser importador para se tornar o maior produtor e exportador de alimentos do mundo, uma potência agroambiental. Hoje, com dois terços (66%) do seu território com vegetação nativa preservada, o Brasil põe comida no prato do brasileiro, do chinês, do europeu, do egípcio, do africano e de mais uma infinidade de nações.

Você, amigo leitor, pode estar espantado e até desconfiado de tudo o que falei até aqui. Eu imagino, pois não é essa história que se escuta com frequência. Bem ou mal, as más notícias vendem mais. Ao mesmo tempo, nos últimos trinta anos, vimos uma forte urbanização da população brasileira, de maneira que a noção sobre o mundo do Agro, antes algo corriqueiro, se distanciou muito da população e dos formadores de opinião, hoje essencialmente urbanos. Naturalmente, conhecem pouco sobre o Brasil rural, os antigos brilhantes porta-vozes, como José Hamilton Ribeiro, tiveram poucos sucessores.

Nesse sentido, urge a necessidade de contarmos mais e melhor a nossa história, como já tem sido muito bem feito pela Carmen Peres e Caio Penido nas telas do YouTube. Mas precisamos de mais. Dar luz ao legado de homens e mulheres, trazer à tona os feitos desse Brasil profundo, como fez o talentoso e saudoso Rolando Boldrin, “tirar o Brasil da gaveta”. Sem romantismo e distorções, sem vilão ou mocinho, na essência como ocorreu, com fatos e dados, inspirado em livros técnicos como os do Jorge Caldeira e Abílio de Barros. Contar a história de quem plantou e criou, história de muitos brasileiros que, embora anônimos, nomearam de fartura essa terra. Muito bem-vindo o espaço de veículos como a Revista CGCity.

A história do Agro é a história do Brasil, dos brasileiros. Merece espaço nas telas do cinema nacional, nos documentários, nas séries de streaming, nos livros e nos museus. Isso vai acontecer, de fato, quando o próprio setor do Agronegócio entender que o storytelling faz toda a diferença, que o soft power da produção cultural é capaz de mudar mentalidades e percepções, pacificar embates e unificar anseios. Contudo, leva tempo e dá bastante trabalho. Para isso, gente boa e trabalhadora no Brasil não falta, faltam bons projetos. Aqui começa um. Obrigado.


Notícias Relacionadas »
📢 Divulgue Para Mais de 15 Milhões de Leitores
MSConecta WhatsApp
O que você deseja? 1 - Divulgar Marca/Negócio 2 - Sugerir Matéria/Denunciar 3 - Ser Colunista 4 - Outros