Por redação
“Markéta festeja de vestido de gala... mas não tira os tênis”, surpreendia-se a manchete do “Daily Mail” sobre a tenista Markéta Vondrouová, a nova campeã de Wimbledon. Uma foto acompanhava a reportagem e confirmava que a tcheca de 24 anos havia ido a um baile comemorativo à noite com um vestido preto sem alças e um par de tênis brancos.
Logo quando eu já começava a sentir minha irritação aflorar diante da opressão cultural contra mulheres sensatas por usar sapatos confortáveis em um evento de gala, notei algo mais na foto. O que eram todas aquelas linhas pretas rabiscadas nos braços de Vondrouová? Saindo dos pulsos até os ombros? Seriam... tatuagens? Sim, eram.
Vondrouová fez a primeira para seu 16º aniversário, e acumulou tantas outras desde então que perdeu a conta. Seus braços têm uma espada, uma fada, um coração e frases como “sem chuva, sem flores”, que, é de se supor, têm sentidos importantes para uma atleta.
Minha primeira reação a respeito foi de espantar-me que isso fosse permitido pelo rigoroso código de vestimenta de Wimbledon. Somente em 2022 os organizadores do torneio concordaram em relaxar a exigência de roupas brancas, deixando as jogadoras usarem shorts escuros por baixo das saias e evitar o estresse adicional de jogar de branco durante a menstruação.
Meu segundo pensamento foi: se Wimbledon não se importa com tatuagens e se o “Daily Mail” considera mais digno de nota o uso de tênis com vestido, o que estará passando nos escritórios? Será que agora as tatuagens são tão aceitas que até empregadores mais conservadores deixaram de policiá-las? Falei com algumas empresas para descobrir.
No escritório de advocacia Slaughter and May, de 134 anos, tatuagens não são proibidas, disse uma porta-voz. O banco HSBC, ainda mais antigo, também não tem regras sobre tatuagens nem sobre shorts, mas espera que os funcionários se vistam de modo “apropriado para a situação profissional”. O Goldman Sachs está no mesmo barco.
Executivos de banco e advogados não são os únicos. “Muitos ficariam chocados em saber quantos médicos têm tatuagens”, diz Michael French, chefe do departamento de gestão e políticas de saúde da Universidade de Miami.
Ele sabe disso porque leciona para muitos médicos e porque fez pesquisas sobre tatuagens e ambiente de trabalho, além de ter, ele próprio, quatro tatuagens. Alguns estudos mostram que ter tatuagens está associado a comportamentos de maior risco em questões como a atividade sexual. No entanto, o estudo mais surpreendente é um de 2018 mostrando que, nos EUA, os tatuados tinham a mesma probabilidade de estarem empregados e de ganhar tanto quanto os não tatuados. Na verdade, homens com tatuagens tinham probabilidade 7% maior de estarem empregados do que os não tatuados.
Para que nenhum leitor comece desesperadamente a procurar o estúdio de tatuagem mais próximo, do que estamos falando aqui é de correlação, não de causalidade. Uma tatuagem não vai necessariamente aumentar o seu salário, mas provavelmente não prejudicará suas perspectivas de emprego.
Isso não significa que as pessoas tatuadas não sofram discriminação. É possível que empresas não tenham normas sobre arte corporal porque discretamente se certificam de que candidatos com tatuagens visíveis não passem nas entrevistas de emprego.
Está claro, porém, que houve uma virada no ambiente de trabalho. Isso provavelmente não deveria ser surpreendente, tendo em vista o tamanho da população de tatuados e, o que é crucial, sua idade. Calcula-se que cerca de 30% dos americanos e 26% dos britânicos têm ao menos uma tatuagem, e a maioria deles é relativamente jovem. Em 2022, mais de 30% dos britânicos com idades entre 25 e 54 anos disseram ter uma tatuagem, em comparação aos 14% daqueles com 55 anos ou mais.
Não é de admirar que os empregadores, em constante necessidade de arregimentar novos recrutas, tenham flexibilizado suas normas sobre tatuagens. A Air New Zealand, a Força Aérea dos EUA e a Polícia Metropolitana de Londres estão entre as várias organizações que afrouxaram suas regras nos últimos cinco anos.
O professor Michael French resume bem: “Se você estiver discriminando pessoas com tatuagens, acabará com um conjunto de mão de obra disponível bastante pequeno”.
(Tradução Sabino Ahumada)