Por redação
A competição entre operadoras de telefonia móvel tem acelerado a instalação de redes de quinta geração no país. 113 municípios brasileiros contam com estações de radiocomunicação 5G - quatro vezes mais cidades do que determina o cronograma para cumprimento de obrigações estabelecido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A única obrigação vencida até o momento é o atendimento às capitais estaduais e ao Distrito Federal. O prazo para disponibilizar o serviço 5G nessas 27 cidades terminou em 31 de julho de 2022, mas as vencedoras do leilão de frequências realizado em 2021 terão ainda de ampliar a densidade de estações rádio-base (ERBs) em todas elas. ERBs são os equipamentos responsáveis pela conexão entre os telefones celulares e a operadora.
Dentro do cronograma, um dos próximos compromissos a vencer - a cobertura de municípios com população igual ou superior a 500 mil habitantes - tem prazo que vai até o fim de julho de 2025.
O 5G atingiu 7,3 milhões de acessos em oito meses, enquanto o 4G levou um ano e meio para chegar a sete milhões de acessos As operadoras, porém, já instalaram redes de dados móveis de quinta geração nessas grandes cidades. “Todas as cidades com mais de 500 mil [habitantes] e as capitais possuem [antenas 5G]”, informa Moisés Queiroz Moreira, membro do conselho diretor da Anatel.
O conselheiro acrescenta que algumas outras cidades com mais de 200 mil habitantes já foram contempladas, apesar do prazo para atendimento destes municípios terminar em 31 de julho de 2026. “Estamos três anos à frente”, diz Moreira. Até segunda-feira (24), havia 436 ERBs em operação em cidades com população na faixa entre 200 mil e 500 mil habitantes, de acordo com a Anatel.
Até mesmo cidades menores estão sendo atendidas, ainda que de forma parcial. Na pequena Bady Bassitt (SP), cidade com população inferior a 20 mil habitantes, por exemplo, o serviço de comunicação de dados 5G era oferecido até março por uma operadora, conforme informações compiladas pela consultoria Teleco junto às companhias. A cobertura, no entanto, estava longe de abranger todo o município.
“É uma competição, no fim do dia todos estão querendo fechar um posicionamento [no mercado] 5G”, afirma Carlos Eduardo Medeiros, consultor sênior para as áreas de comunicação, mídia e tecnologia da americana Oliver Wyman na América Latina. “Alguns vão atrás de velocidade, outros vão atrás de abrangência, de cobertura. [...] Cada um tenta se posicionar de uma forma diferente, principalmente as três grandes [Claro, TIM e Vivo], que têm cobertura nacional".
Com as 9.970 estações rádio-base (ERBs) já licenciadas pela Anatel que operam na faixa de 3,5 gigahertz (GHz), o serviço 5G está presente em 113 municípios. Somada, a população dessas cidades ultrapassa 86,3 milhões de habitantes (40% do total no país).
A expansão da infraestrutura de redes de quinta geração ajudou a impulsionar o crescimento - ao menos em termos nominais - dos investimentos em telecomunicações no Brasil em 2022. Segundo a Conexis Brasil Digital, sindicato que reúne algumas das maiores operadoras do país, as companhias do setor investiram um total de R$ 38,1 bilhões no ano passado, montante 7,3% superior ao desembolsado em 2021.
O avanço do 5G também é visível no mercado de telefones celulares. “O 4G chegou a sete milhões de acessos em um ano e meio depois que começou a implantação. Com o 5G, nós já atingimos 7,3 milhões de acessos em oito meses”, compara o presidente-executivo da Conexis, Marcos Ferrari, citando números do mês de fevereiro.
Ferrari lembra que, no caso da tecnologia anterior, o 4G, houve antecipação em dois anos das metas traçadas para a implementação de redes. “Por que isso aconteceu? Porque houve demanda”, explica o executivo, recordando que as redes móveis de quarta geração permitiram o desenvolvimento de aplicativos de transporte e a expansão de serviços bancários e de streaming, entre outros.
A trajetória do 5G no país, porém, tem sido marcada por alguns sobressaltos. O prazo inicial estipulado pelo regulador para a oferta do serviço em todas as capitais e no Distrito Federal na proporção de uma ERB para cada 100 mil habitantes foi prorrogada por duas vezes no ano passado. A postergação ocorreu devido a atrasos na importação de equipamentos cuja fabricação foi afetada por restrições impostas na China para combater a covid-19.
Um complicador adicional foi o fato de a principal faixa de frequência destinada no Brasil aos serviços 5G - a de 3,5 GHz - poder causar interferência na recepção nos canais de TV aberta transmitidos via satélite por meio da chamada “Banda C.”
A solução encontrada foi a migração desses canais para uma faixa de frequências mais alta, a Banda KU. A “limpeza” da faixa de 3,5 GHz está avançada em quase dois anos, destaca Moreira, da Anatel. “Nós vamos liberar na quarta-feira, 26 [hoje], mais 282 municípios. Com isso, um total de 964 cidades estarão com a faixa limpa”, acrescenta.
Entre as obrigações incluídas no edital do leilão de frequências em 2021 está também o compromisso de implantar uma rede privativa de comunicação para o governo federal. “A única coisa em que não estamos tão avançados [...] é em relação à rede de segurança nacional. Por quê? Porque precisamos de alguns elementos, de alguns dados e isso depende mais do governo do que de nós”, explica o conselheiro da Anatel.