PcDs ocupam apenas 5% dos postos de liderança em grandes empresas

Pesquisa exclusiva investigou 419 companhias em 19 setores

21/04/2023 00h00 - Atualizado em 25/04/2023 às 12h46

Por redação

Quanto maior a empresa, menor é a presença de pessoas com deficiência (PCDs) em posições de liderança. É o que mostra a pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA) e obtida com exclusividade pelo Valor.

O estudo revela que 11% dos cargos de comando são ocupados por PCDs em pequenas companhias, número que cai para o máximo de 8% nos negócios de médio porte e derrete para 5% nas grandes organizações.

A pesquisadora e professora da pós-graduação da FIA Business School, Lina Nakata, refuta a ideia de que grandes empresas teriam menos PCDs em cargos de liderança porque as equipes de gestores seriam maiores. “Não acredito nisso”, diz. “Acho que a baixa inclusão acontece em organizações que não dão oportunidades suficientes ou por não perceberem as competências desse perfil".

Já as companhias de menor porte teriam mais PCDs na alta cúpula por conta também do efeito da proximidade. Os dirigentes vivenciam de forma mais próxima a rotina dos profissionais e vêem que não há limitações em relação a competências corporativas, analisa.

A pesquisa ouviu 419 empresas em todo o Brasil, sendo 36% de pequenas companhias (50 a 300 funcionários), 43% de médias (301 a 1,5 mil) e 21% consideradas grandes (mais de 1,5 mil). As organizações pertencem a 19 setores da economia, como saúde (12,9% do total), tecnologia (11,4%) e saneamento (9,3%).

“O que mais chama a atenção na sondagem, do lado negativo, é que apesar de a lei de cotas existir desde 1991, nem sempre é cumprida, mesmo com a previsão de multas”, diz Nakata. “Ainda faltam iniciativas de inclusão e equidade".

A legislação exige que empresas com 100 a 200 funcionários devam ter pelo menos 2% de PCDs na folha. Esse percentual é de 3% para companhias com 201 a 500 empregados, de 4% para aquelas com 501 a mil, e de 5% para quem emprega mais de mil pessoas.

Analisando os dados por um viés positivo, continua a estudiosa, surpreende saber que participantes da pesquisa empregam 3,2% de PCDs, mais do que o triplo da média do mercado, que é de 1%, por empresa. “São organizações que se preocupam com o tema e promovem ações afirmativas".

Nakata diz que a falta de PcDs nas lideranças é um reflexo de equipes não inclusivas. Não há PCDs em posições de chefia porque não há PcDs nas companhias, resume. “Mesmo quando as empresas cumprem ou superam as cotas, esse grupo dificilmente é desenvolvido para ocupar as vagas de comando”, destaca. “Além disso, como são raros os líderes PcDs, a falta de modelos de referência torna o processo [de ascensão profissional] muito difícil.”

O estudo mostra que, quando alcançam as cadeiras de decisão, trabalhadores com alguma deficiência se concentram em funções de coordenação ou supervisão (59%), gerência (36%) e no C-level (5%). É importante lembrar, diz Nakata, que a PCD possui alguma limitação, mas não deixa de entregar resultados e acumula competências como qualquer currículo do mercado.

As deficiências mais frequentes dos profissionais nas firmas verificadas pelo estudo são motora (41%), visual (32%), auditiva (20%), cognitiva (4%) e múltipla (combinação de mais de uma das situações anteriores), com 3%.

Diante do resultado do levantamento, a professora, também especializada em gestão de pessoas, diversidade e liderança, recomenda um maior planejamento dos empregadores, a fim de atrair PCDs para todos os departamentos e níveis hierárquicos.

“Se a chefia apenas declarar que ‘todos são iguais’ não está se esforçando para ter um time diverso”, analisa. “Ao contratar mais pessoas com deficiência, vai precisar preparar a organização antes, treinando os funcionários para receber os colegas. Depois de cumprir essa primeira etapa, a orientação é que todos dividam as oportunidades de crescimento, com equidade e tratamento justo".


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