Pecuária: engorda de fêmeas ajuda a aumentar giro de pecuaristas áreas do MS

Com maior ganho de gordura, animais garantem terminação mais rápida apesar do menor rendimento quando comparado a machos

31/03/2023 00h00 - Atualizado em 04/04/2023 às 13h11

Por redação

O menor peso e o menor rendimento de carcaça, são características intrínsecas de vacas e novilhas quando comparadas aos animais machos. Porém, a engorda de fêmeas de alto padrão destinadas aos mercados exigentes em qualidade de carne tem ganhado espaço entre produtores que buscam alta produtividade em pequenas áreas do Mato Grosso do Sul.

O estado mantém um programa oficial de bonificação, que paga até 67% a mais por animais precoces e com bom acabamento. “A gente vê nos últimos anos o mercado buscando fêmeas para levar para terminação. Isso se dá muito pelo volume de fêmeas que você consegue colocar dentro da mesma área e o tempo que tem o processo. Enquanto o macho precisa ser levado até pelo menos os 24 meses de idade para o abate, a fêmea consegue tirar com quatro ou cinco meses de antecedência”, explica o gerente da fazenda Canaã, Flávio Taveira Sandim.

Embora o principal mercado de atuação da propriedade seja a venda de animais melhoradores, com uma demanda maior por machos reprodutores, Sandim conta que a tendência do mercado indica um equilíbrio entre os dois segmentos num futuro próximo diante da crescente procura de fêmeas para engorda.

“Acho que o produtor invernista, que produz realmente o animal de corte, tinha até pouco tempo na cabeça dele que o macho tinha uma rentabilidade muito maior porque o valor dele era bem mais alto do que o de uma fêmea. No entanto, depois que ele começou a fazer conta e viu que realmente é possível colocar mais fêmeas numa mesma área, com custo menor, exigência nutricional menor, ele começou a abrir o olho e o mercado veio se voltando, realmente, para mais compra e abate de fêmeas”, completa Sandim.

Decisão técnica e econômica

Com mais de 30 anos de experiência na área, o pecuarista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Antônio João de Almeida, conta que a decisão de se especializar na recria e engorda de fêmeas se deu por questões técnicas e econômicas.

Além de mais fáceis de terminar, já que depositam gordura com maior facilidade, esses animais também são menos disputados no mercado de cria, garantindo um preço de reposição o que garante quando comparado aos machos.

“O macho geralmente tem uma grande concorrência, principalmente de invernistas de outros estados que vêm aqui e compram grandes quantidades de bezerro e você tem que competir com eles. Mas eles geralmente não compram muitas fêmeas, são mais machos para levar para grandes confinamentos. Além disso, o ciclo é mais rápido. Enquanto um boi eu preciso levar 500 ou 600 quilos, a fêmea com pouco mais de 400 quilos já está pronta”, detalha o produtor de Corguinho.

Razões semelhantes levaram Carlos Furlan a também optar pela engorda de fêmeas após mais de dez anos criando ambos os animais - machos e fêmeas - de forma indistinta.

“A fêmea, na minha conta, na gestão financeira que eu faço, ela é melhor para o meu sistema e tamanho de fazenda. Eu não preciso de tanta mão de obra e ração para fazer o trabalho de terminação com os animais”, pontua o pecuarista, que conta com um único funcionário para a lida do seu rebanho de 1.000 animais distribuídos em cerca de 600 hectares em Jaraguari, também no Mato Grosso do Sul.

Ideal para pequenas áreas

De acordo com a técnica zootecnista da Associação Novilho Precoce, entidade da qual Furlan e Almeida fazem parte, a estratégia de se especializar na engorda de fêmeas tem se mostrado ideal para produtores de áreas menores que investem em alta produtividade.

Nesses casos, o bom acabamento de carcaça somada à precocidade e outros protocolos de rastreabilidade e qualidade da carne garantem bonificações que cobrem a diferença em relação aos animais machos, além de um maior giro do rebanho.

“A maioria dos nossos associados que trabalham com fêmeas trabalham em pequenas áreas onde conseguem colocar um maior número de novilhas do que de machos. Além disso, as fêmeas também são mais calmas quando comparadas com machos, que costumam ser mais agressivos e demandam estruturas maiores e mais resistentes. Então, o investimento é mais alto quando você vai trabalhar com machos, embora o retorno seja maior porque tem maior rendimento de carcaça”, detalha Isabelli Silveira.

Diante de um mercado que valoriza animais machos, o segredo da estratégia desses pecuaristas está justamente nas bonificações. “A fêmea compensa porque ela termina mais rápido e dá um acabamento mais rápido também. Mas isso tem vantagem se você fizer o que falei: participar de programas que dão bônus e premiação nessa fêmea. Se você faz uma fêmea comum, sem nenhum programa de bonificação, muitas vezes não compensa”, revela Antônio Almeida.

Novilha não é vaca

De acordo com dados trimestrais de abates do IBGE, a participação de fêmeas no total de abates de bovinos do Brasil chegou a 37,3% em 2022, aumento de 19,1% em relação ao verificado em 2021 e o maior patamar desde 2019.

O crescimento se deu tanto entre animais mais velhos, com mais de dois anos de idade e cuja dinâmica está associada à inversão do ciclo pecuário e ao descarte sazonal de matrizes, quanto entre novilhas, cujo crescimento foi de 20,2% no período ante 18,7% no caso das vacas.

“É diferente preço de vaca e preço de novilha. A vaca, que geralmente é descarte, sempre tem o preço muito mais baixo. Já as novilhas são animais de menos de dois anos de idade, com acabamento e qualidade que podem superar a do boi”, pontua Almeida ao destacar os benefícios de realizar um ciclo mais curto em sua propriedade.

“A precocidade é intrínseca à qualidade da carne. Um animal jovem, que é abatido mais cedo, passa menos tempo dentro da propriedade trazendo benefícios ambientais e financeiros ao produtor. E tudo isso está interligado. Quanto mais você investe dentro da propriedade em tecnologia e sustentabilidade, mais você tem retorno financeiro”, completa o produtor.


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