Por redação
Um levantamento divulgado na última segunda-feira (20) mostra que, no Brasil, 100 milhões de pessoas não têm rede de esgoto e falta água potável para 35 milhões. É profunda a diferença que separa as cidades brasileiras, quando o tema é saneamento básico: 16 dos 20 municípios com melhores condições estão no Sul e no Sudeste.
São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, está no topo do ranking. Quase 100% da população dessas cidades tem água potável e coleta de esgoto, e o índice de tratamento é de 80%.
12 dos 20 piores estão no Norte e no Nordeste do país. Macapá teve a pior avaliação. São cidades onde a média de acesso à água é de 80%, a de coleta de esgoto é de menos de 30% e a de tratamento de 18%.
O ranking é do Instituto Trata Brasil, com base nos indicadores de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. São analisados os 100 municípios brasileiros mais populosos.
Uma das cidades que mais caíram de posição de um ano para o outro foi Belo Horizonte, que investiu R$ 49 por ano por habitante em saneamento, bem abaixo da média nacional, de R$ 82.
Em um bairro de São Paulo, o esgoto corre no meio da rua. E São Paulo está na lista das melhores colocadas no ranking.
O pedreiro Darlan Miranda comenta,"É muita doença. Não tem como. É doença demais". Mas no bairro, da Zona Sul da cidade, há casas ligadas ao sistema de abastecimento de água e de coleta de esgoto, e outras sem nenhuma regularização, que despejam tudo diretamente no córrego. No fim, todos os moradores pagam a conta da falta de saneamento.
Em uma das casas mora a Dona Maria do Carmo Pereira da Silva. Encontramos a idosa construindo uma barreira na entrada do quarto para segurar a água do córrego."Quando ele transborda, ele sobe a janela. Sobe a janela e ai não tem o que fazer, né? Água suja, barrenta, uma imundice que vem", conta ela.
A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, diz que a desigualdade social começa pelas condições de saneamento."As pessoas, por exemplo, ficam muito mais doentes. E isso diminui tanto a ascensão social de uma criança - gera atraso escolar, menor nota no Enem - quanto a possibilidade de geração de renda de um adulto, porque ele acaba tendo suas atividades e sua produtividade prejudicadas pela falta de saneamento", destaca. Cuiabá, cidade que ganhou mais posições no ranking, investiu mais de R$ 300 por ano por habitante em saneamento básico, bem acima da média nacional. A população já sente a diferença.
"Há um tempo atrás o pessoal reclamava de diarreia, dores no estômago", diz um morador. "Mudou na qualidade da água, mudou também até na saúde da população. Mudou muito", ressalta outro morador. A Concessionária de Saneamento do Amapá afirma que nvestiu R$ 100 milhões, desde que assumiu os serviços, no ano passado.
A companhia responsável pelo abastecimento em Belo Horizonte declarou que está investindo em tecnologia para reduzir a perda de água - e em projetos de saneamento. Em São Paulo, a concessionária alegou que a rede mostrada na reportagem foi danificada durante as chuvas - e que será refeita.