Por Ogg Ibrahim
UÓÓÓÓLHAAAAA!”. Há mais de uma década, ele abre o seu programa no SBT/MS com essa expressão, que é sua marca registrada. Uma marca que se tornou das mais poderosas na telinha da TV em Mato Grosso do Sul, pela sua audiência e irreverência.
Tatá Marques, batizado como Atamaril Amaral Marques, aos 46 anos de idade desfruta de um prestígio e sucesso na televisão que nenhum outro comunicador conquistou em MS até hoje. Ele é líder de audiência no horário do almoço com “O Povo na TV”, programa jornalístico que mistura seriedade com humor e é recordista em vendas de merchans e comerciais para televisão - o que faz dele um dos maiores garotos propagandas do estado e, talvez, do Brasil.
Também não é para menos. Tatá, além apresentador, é publicitário, jornalista com pós-graduação em administração de marketing e comércio exterior e especialista em comunicação de alta eficácia. Já passou por mais de 15 países fazendo gravações jornalísticas em um programa independente de viagens e fez breves passagens pela Globo News e pelo Fantástico, quando estava na TV Morena. Tamanha experiência tornou Tatá um dos maiores influenciadores locais, com mais de 326 mil seguidores, somando todas as suas redes sociais.
Sempre inquieto e de uma cultura ímpar, Tatá dedicou um tempo da sua agenda atribulada para a nossa conversa. Confira a seguir esse bate-papo leve e inspirador.
Ogg Ibrahim: Tatá, já li algumas vezes sobre a sua história e vi que, realmente, você veio de uma vida muito simples. Pegava ônibus, calor imenso pra poder ir trabalhar... Vamos começar contando um pouco dessa história.
Tatá Marques: Olha, Ogg, eu não sou tão diferente da maioria dos brasileiros não. Eu tive que ralar muito para conquistar minhas coisas. Tomei muito “não” na cara, muita porta fechada. Passei por situações de vergonha até, de ficar esperando horas e horas alguém me atender. Aí voltar no outro dia, ficar mais tempo esperando pro cara falar: “Não, não preciso, não quero, não vou, não é isso que eu espero, você não serve, você não tem o perfil...”
OI: Isso vendendo publicidade?
TM: Cara, desde os empregos mais simples até o começo da minha vida em comunicação. Eu trabalhei em padaria, pegava bicicleta na Morada da Colina, atrás do motel “CQ Sabe”, aí eu ia de bicicleta lá pra Vila Planalto, na padaria de um turco. Ali eu comia meu pão com mortadela de manhã cedo, que era o nosso café da manhã, e começava a trabalhar. Depois da padaria do turco, fui trabalhar no Estúdio Galvão, na Rui Barbosa. Tirar foto 3x4 era a promessa, eu achava que já ia ser fotógrafo! Mas aí eu fui lavar banheiro mesmo. Lavei banheiro e limpei calhas lá do Estúdio Galvão. Ele era, inclusive, um dos melhores fotógrafos de casamentos em Mato Grosso do Sul e eu aprendi com ele, depois, a bater foto e tenho gosto por fotografia até hoje.
OI: Você primeiro foi estudar história. Só depois é que passou pra comunicação?
OI: Mas você começou a se destacar mesmo foi no rádio. Como foi parar lá?
TM: Fiquei um semestre em história. Pra mim foi fantástico, porque eu aprendi a gostar da matéria e entender que na história encontramos referências do que somos e isso me ajuda até hoje, inclusive. Aí mudei pra comunicação. Só que eu sabia que não ia ter dinheiro para pagar os padres (da UCDB), né cara? Eu fiquei olhando lá na faculdade, o que que eu podia fazer e falei: “Vou trabalhar pra esses padres”. Tinha a Pastoral Universitária, missas, cerimonial… Eu fui lá me candidatar e conversei com a Neila Sinésio que, na época, era coordenadora. Primeiro fui trabalhar carregando ostensório, turíbulo, batina de padre, vela, pra cima e pra baixo naquela UCDB, toda quinta-feira tinha missa no bloco B. Eu era o coroinha do negócio. E apresentava, na sexta-feira, a Sexta Cultural, que era com eventos e tal.
TM: Começou com o Rezende Júnior, monstro da comunicação, um cara que eu tenho um carinho e respeito enorme. Naquela ocasião, eu sentei do lado dele e falei: “Cara, não tem como você me dar uma chance lá na rádio?”. Ele falou: “Mas o que você faz?”, e eu: “Faço umas imitações, uns negócios aí...”. Ele pediu pra eu fazer umas vozes e aí eu fiz umas diferentes. Então ele falou “Ah, inventa um personagem e vai lá”. Eu pensei... “Cara, tá aí a minha chance”. Inventei lá um personagem bem besta, bem sem graça e comecei no rádio fazendo esse personagem, chamado Chupeta. Era de um office boy que fazia as coisas erradas. E o Rezende gostou! E aí o que que acontecia? O programa era de quinze minutos, começava cinco e quarenta e cinco e ia até às seis. Sabe que horas que eu chegava lá? Uma da tarde! O Rezende falava “Cara, não chega uma da tarde. Isso vai dar problema de empregabilidade para nós aqui, vínculo empregatício, sei lá.” Mas eu ia lá pra ver como funcionava. Eu sentava numa mesinha, criava propagandas de produtos que não existiam, criava personagens, criava vozes novas… Eu me enfiei dentro desse mundo do rádio. Foi isso! Só que aí a rádio foi arrendada para a Igreja Universal e eu tive que sair.
OI: Porque não cabia mais aquele personagem dentro do perfil da rádio. Certo?
TM: Isso! Aí eu fui pra Band (TV Guanandi), uma emissora pequena ainda, pra ser produtor de um programa do Dácio Corrêa, colunista social. Era tipo um Clodovil pantaneiro sabe? (risos...) Ele fazia sucesso pela irreverência dele e eu fui lá ser produtor. Acho que eu não fiquei nem dois meses lá e fui mandado embora porque a TV estava passando por uma série de situações. Na época eu cheguei a falar: “Não, eu fico de graça”, mas disseram que eu não podia ficar de graça, que não era assim. Saí de lá e apresentei o projeto de um programa chamado Pândega, para a FM Capital.
OI: O que que você foi fazer, exatamente, na TV Morena?
TM: Fiz o Pândega, programa de humor, por 6 anos lá na Rádio Capital. Graças ao Pândega eu entrei na TV Morena, afiliada da Globo. Eu fui lá bater na TV Morena, falar com o Ricardo Miragaia. Eu acho que falei tanta besteira pra o Ricardo que ele pensou “esse cara é louco, ele vai dar certo!” (risos) Aí ele resolveu me dar uma chance. Eu entrei para o Atualidades, apresentado pela Marisa Machado. Lá eu fazia reportagens caricatas, inusitadas. Por exemplo: uma vez entrei no córrego Prosa com os bombeiros, levei uma bonequinha vestida de noiva e uma caveira. Aí falei (alterando a voz): “Vamos medir o grau de toxicidade do córrego Prosa. Está tudo bem por aqui, mas a gente só vai fazer esse teste pra comprovar que realmente a água é limpa”. Aí mergulhei a bonequinha de vestido de noiva da minha mãe e puxei a caveirinha, toda “esgualepada” (risos). E eram essas coisas diferentes.
OI: Você fez participações na Globo News e num quadro no Fantástico. Como é que foi isso pra você?
TM: Meu Deus… foi uma realização de sonho, foi uma das coisas mais incríveis que já me aconteceu. O Hermano Viana, que é um antropólogo e produzia quadros pro Fantástico, veio a Campo Grande e eu acabei mostrando para ele um pouco do meu trabalho. Ele falou: “Cara, vou te apresentar lá pra equipe do Fantástico”. Logo depois recebi um convite para ira a Tomé Açu, na Amazônia, jogar golfe com os japoneses de uma comunidade lá. Documentamos isso e a reportagem foi bem bacana, foi legal, foi bem comentada. Eu lembro que, na segunda-feira, quando eu cheguei na redação da TV Morena, o pessoal me aplaudiu. Eu nunca vou me esquecer dessa cena!
OI: E no que deu depois? Por que a saída da TV Morena?
TM: Naquele momento, estavam trocando o diretor do Fantástico. Mudou o cara, entrou outro, engavetou o projeto e não sei o que. Só que eu não fiquei esperando e acabei saindo da emissora. E aí eu, sem dinheiro, sem falar inglês, mal e porcamente um espanhol meio belavistense, meio paraguaio, estava assistindo na minha casa o Amaury Júnior e vi ele lá na República Dominicana. Tinha o telefone da operadora (de turismo) embaixo e liguei. Liguei na cara dura, porque tem uma frase nova que diz: “O não você já tem, vamos em busca da humilhação” (risos). Então eu fui em busca da humilhação e acabei recebendo um “sim”! O cara me mandou passagens, pra mim e pro meu cinegrafista, e fui pra lá com tudo pago, num resort milionário. Fiquei doze dias gravando a República Dominicana para a Band (TV Guanandi).
OI: Aí você correu o mundo. Todas as viagens patrocinadas por agências?
TM: Eu ia em cada um dos possíveis anunciantes oferecer o produto. Eu era o vendedor, produtor, diretor, repórter, eu era o que carregava o tripé da câmera, era assim. Foram mais de três anos, um ano e oito meses na Band e, depois, um ano e oito meses no SBT com esse mesmo programa.
OI: E o programa “O Povo na TV”. Como foi esse começo?
TM: Foi um baita desafio, não era um programa que eu imaginava um dia apresentar. Mas pesquisei os modelos de programas no Brasil para entender o que os caras falavam, qual era a linguagem utilizada… E cheguei à conclusão de que eu não queria fazer daquele jeito, porque era muito pejorativo. No meu programa eu quis imprimir um jeito Tatá de falar, mais descontraído, tentando fazer uma comunicação que não fosse pejorativa e que me desse ao luxo de fazer uma brincadeira, algo mais inusitado.
OI: Mas no começo não achavam estranho?
TM: Ninguém queria ir no programa no começo. Você ligava pra uma banda, pra um grupo e eles falavam: “Não, que dia é? Quarta-feira? Não dá, quarta-feira nós temos gravação, nós temos show, nós temos isso aqui, não dá pra ir!”. Não iam fazer nada, eles não queriam ir no programa. Era vergonha de ir ao programa! Hoje tem fila de artistas que querem se apresentar lá.
OI: Com todo esse sucesso, o que falta para o Tatá Marques hoje?
TM: Falta evoluir. Falta muita coisa. A partir do momento em que você acha que está bom, você está pronto pra morrer. O animal saciado no alto da savana dorme, e eu não quero dormir. Quero estar acordado, estar criando, estar o tempo todo inovando… Essa é a minha grande missão! E acima de qualquer coisa, quero ser um bom pai de família, um marido presente, amoroso, companheiro e manter a minha família como o meu grande pilar de observação e de base. É isso, Ogg!
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