Por Ana Laura Menegat
Nascido em Aparecida do Taboado (MS), Raique Moura, antes mesmo de completar 10 anos, já carregava consigo uma certeza: seria artista quando crescesse. O sul-mato-grossense cresceu acompanhando todas as peças de teatro que chegavam até a sua cidade e, dos 11 aos 16 anos, fez parte de grupos de atuação e contação de histórias. “Comecei a experimentar e pirar nisso de decorar texto e interagir com outras pessoas”.
Hoje, Raique é ator, artista visual, fotógrafo, produtor cultural e artesão. Quando terminou os ensinos na escola, começou a pesquisar cursos na faculdade e descobriu a graduação em artes cênicas na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), então decidiu concorrer a uma vaga. “Fiz o vestibular e passei, falei: mãe, pai, quero ir! Mas a nossa condição financeira nunca foi boa, era tudo muito complexo, vim na cara e na coragem, sem conhecer ninguém”.
Com o passar dos semestres, Raique experimentou mais e mais possibilidades artísticas, que expandiram sua mente e seus horizontes. “Eu pensei ‘caraca, teatro é a coisa mais incrível que eu já fiz na vida’ e fui pirando nesse universo. Entrando no curso de artes cênicas, o meu olhar para arte também expandiu muito, porque eu comecei a querer fazer outras coisas. Aí entrou a fotografia, porque as peças eram incríveis e eu quis muito fotografá-las, brincar com a fotografia. O meu olhar para as artes visuais começou a ser despertado também, eu sempre quis aprender de tudo e experimentar tudo”.
Assim nasce um multiartista! Em determinado momento da graduação, Raique estava em quatro grupos de teatro, trabalhava para conseguir se manter estudando e iniciou as experimentações com artesanato. O jovem artista sempre adorou itens de papelaria e, com suporte de seu companheiro Gil Esper, iniciou a criação, montagem e costura de suas próprias cadernetas artesanais, criando a papelaria criativa Giráfolhas. No papel, nasciam ideias e diálogos entre as artes, misturando sentimentos e visualidades. “Eu fui criando costuras dessas linguagens artísticas na minha vida, porque eu queria e quero viver de arte. Aí juntou tudo: as artes visuais, o teatro, a fotografia e o artesanato.”
“Eu acho que, enquanto artista, a gente não precisa escolher só um caminho, podemos experimentar de tudo. Se a arte nos move, independente de qual linguagem seja, ou se a gente se identifica com todas, a gente pode escolher e seguir o caminho de experimentar tudo e ser tudo o que quiser”, defende Raique.
Ele também roteirizou e dirigiu o curta-metragem “Voante - Um rastro poético ou uma ode à imaginação”. Na obra, ele coloca as artes visuais no audiovisual, somando a performance teatral e os registros fotográficos, retratando os personagens de seus desenhos e mantendo sua identidade visual com a presença de lágrimas e de um coração. “Eu queria muito que os meus desenhos e as minhas criaturas ganhassem vida e mostrassem mais ou menos o que se passa dentro da minha cabeça, então eu peguei os meus desenhos e transformei em bonecos e máscaras. No final deu essa explosão de sensações boas ao ver o resultado, mas foi um processo de desapego total [com algumas cenas]”.
No presente, Raique está conhecendo uma nova face artística: a da serigrafia. “É muito legal poder criar artesanalmente as minhas ilustrações, não apenas imprimir na impressora, mas produzir tudo de forma artesanal. A serigrafia meio que deu um boom no meu olhar como artista visual e nas infinitas possibilidades de criação”.
Além disso, ele se sente intensamente imerso em O Balaio, a feira criativa em que ele é um dos produtores culturais. “É uma feira de resistência”.