A piscicultura de Mato Grosso do Sul vive um momento de contraste entre crescimento e incertezas. O Estado exportou 1.190 toneladas de tilápia entre janeiro e julho de 2025, um aumento de 123% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram enviadas 534 toneladas do pescado para os Estados Unidos. No entanto, a sobretaxa de 50% imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump ameaça praticamente zerar o envio do produto ao principal destino internacional.
De acordo com a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), o valor obtido com as exportações saltou de US$ 1,89 milhão no primeiro semestre de 2024 para US$ 5,83 milhões no mesmo período de 2025. O Estado ocupa atualmente a quinta posição na produção nacional de tilápia.
Mesmo com a dependência norte-americana de importações para atender sua demanda interna, não há expectativa de que o governo dos EUA recue da medida tarifária. Além do Brasil — hoje o oitavo maior fornecedor — países como China, Colômbia, Honduras, Indonésia, Taiwan, México, Costa Rica, Equador e Peru compõem a lista dos principais exportadores de tilápia ao mercado norte-americano.
Segundo a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), a produção estadual se concentra em tanques escavados no sul e em tanques-rede nos lagos das hidrelétricas do Rio Paraná, onde também ocorre o processamento do pescado.
Dados da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) apontam que, em 2024, o Estado produziu 43.071,12 toneladas de peixes, sendo 89% de tilápia (38.333 t), 10% de espécies nativas (4.307 t) e 1% de outras espécies. A projeção para 2025 é chegar a 55 mil toneladas.
Os Estados Unidos seguem como principal mercado, com 99% das exportações, seguidos por Canadá (2%), além de China, Japão e Taiwan. No período de janeiro a dezembro de 2024, foram abatidas 8.478,66 toneladas em 11 indústrias registradas no Estado.
Entre as unidades em operação, a Mar e Terra, em Itaporã, lidera com cerca de 32 toneladas/dia, enquanto a planta de Aparecida do Taboado mantém média de 30 toneladas/dia, exportando apenas 25% de sua produção.
Novos mercados
Diante do impacto da sobretaxa, o governador Eduardo Riedel realizou missão oficial à Ásia, onde se reuniu com representantes da Associação de Comerciantes de Carne de Singapura. O grupo manifestou interesse em importar a tilápia sul-mato-grossense, ampliando o portfólio de produtos que já inclui a carne brasileira.
Segundo o governo estadual, duas empresas de MS enfrentam dificuldades para escoar a produção, e a abertura do mercado de Singapura pode ser uma alternativa imediata.
Incentivos ao setor
Para estimular a piscicultura, o Estado mantém o programa Peixe Vida, que incentiva a produção sustentável com incentivos fiscais. Atualmente, 83 produtores e seis frigoríficos estão cadastrados no programa.
Em abril deste ano, o governador assinou decreto que concede isenção de ICMS em operações internas de alevinos e reduz para 1% a alíquota nas operações interestaduais. Já nas operações de abate, a alíquota cai de 7% para 3,5% dentro do Estado e para 1% nas vendas interestaduais.
Em 2024, o programa destinou mais de R$ 2,5 milhões em incentivos aos piscicultores sul-mato-grossenses.
