O tarifaço proposto por Donald Trump pode impactar significativamente as exportações de café do Brasil para os EUA, levando o país a explorar mercados alternativos na China e nas Filipinas. A GlobalData indica que essas regiões apresentam alto crescimento nas vendas de café, com as Filipinas se destacando como o quinto maior mercado de café quente em 2024 e a China como o sétimo. Com 32,4% das importações de café da China provenientes do Brasil, Gopsill sugere que os exportadores devem adaptar suas estratégias, considerando também aspectos políticos e culturais no comércio global.
O tarifaço anunciado por Donald Trump ameaça uma parcela significativa das exportações totais de café do Brasil, geralmente direcionadas ao mercado norte-americano. Segundo análise da GlobalData, a expectativa é que o movimento leve o país a buscar oportunidades na China e nas Filipinas.
Em relatório recente, a GlobalData apontou os setores de bens de consumo embalados (CPG) mais afetados por tarifas em relações comerciais específicas e destacou como as empresas desses segmentos podem reagir. Um exemplo citado foi que tarifas mais altas entre EUA e China podem permitir que exportadores brasileiros de soja conquistem a fatia de mercado americana na China.
“Exportadores brasileiros de café devem buscar mercados alternativos aos EUA, caso o país concretize suas ameaças. Eles precisam mirar em mercados alternativos que combinem alto crescimento absoluto projetado com uma alta taxa de crescimento anual composta, refletindo assim um mercado de café grande e em rápido crescimento. As Filipinas e a China oferecem ambos”, afirma Rory Gopsill, analista sênior de consumo da GlobalData.
De acordo com o banco de dados Segment Insights da consultoria, as Filipinas foram o quinto maior mercado de café quente do mundo em 2024. A expectativa é que o país apresente o terceiro maior crescimento absoluto global em vendas no varejo de café quente entre 2024 e 2029 – atrás apenas dos EUA e do Japão –, com aumento de US$ 1,8 bilhão e CAGR de 5% no período. Já o mercado de café pronto para beber deve registrar o sétimo maior crescimento absoluto em valor de vendas globalmente no mesmo período, somando US$ 264,8 milhões e CAGR de 11%.
A China, por sua vez, ocupou o sétimo lugar entre os maiores mercados de café quente em 2024 e deve apresentar o quarto maior crescimento absoluto em vendas no varejo até 2029, com alta de US$ 1,6 bilhão e CAGR de 5%. As vendas de café pronto para beber no país devem ter o segundo maior crescimento absoluto no mundo no mesmo período, totalizando US$ 1,9 bilhão.
Na avaliação de Gopsill, o Brasil está bem posicionado para aproveitar esse potencial de crescimento, especialmente na China. O país já é responsável por 32,4% das importações totais de café da China, segundo dados de 2023 do Observatory of Economic Complexity. Além disso, Brasil e China mantêm relações comerciais estreitas, sendo ambos membros fundadores do Brics, e a China depende fortemente de produtos agrícolas brasileiros, como soja, para reduzir a dependência dos EUA.
Gopsill conclui que, à medida que os exportadores brasileiros enfrentam a possível perda de competitividade no mercado norte-americano, torna-se imperativo buscar mercados alternativos com crescimento robusto. “No entanto, de forma mais ampla, a decisão dos EUA de impor tarifas ao Brasil por razões ideológicas, e não econômicas, reforça a necessidade de que Estados-nação e empresas de CPG considerem tanto questões macroeconômicas quanto políticas e culturais em suas estratégias daqui em diante”, afirma o analista.
